Saturday, April 29, 2006

Requiem For a Dream - nota 10

Escolher palavras para falar de Requiem for a Dream é uma tarefa difícil. Talvez porque o filme realmente contenha uma mistura de sentimentos, talvez por incluir uma estética de filmagem diferente e surpreendente. Ou simplesmente por ser genial no que se prepõe.

O filme impressiona, tanto pelo roteiro como pela técnica de filmagem. O uso de drogas é retratado com maestria e sem pudores. Mas o grande diferencial, sem dúvida, é a estética visual. É como se o filme não mostrasse os fatos em si, mas sim o modo como nos lembramos deles algum tempo depois, ou como em um sonho. Ele é recheado de cenas surreais, para mostrar como nos sentimos em relação aos fatos, e não os fatos propriamente ditos. Tomadas fechadas, flashs rápidos, cenas em slow motion ou aceleradas, múltiplas imagens em cena, pontos de vista inusitados. Estes são apenas alguns dos truques usados para dar ao público a sensação esperada.

E o resultado disso tudo? Na maior parte das vezes você fica realmente confuso, fica difícil distinguir realidade de sonho com tanta distorção. É como se você estivesse drogado também, participando da ação, entendendo o sofrimento, e sofrendo junto. E a sequência final é uma nada agradável overdose. Por alguns minutos, você não pensa, não se move, não pisca, sequer respira com tanta angústia. Nenhum outro filme causa tanto impacto.

Não vou negar, ao fim você está um tanto deprimido. O filme te envolve de uma maneira que faz pensar em muita coisa ao mesmo tempo, principalmente sobre as consequências dos seus atos. Bem, não é a receita certa para uma tarde ensolarada mas, de vez em quando, faz bem parar para pensar olhando para as paredes.

Por tudo isto, este entra com certeza na lista dos imperdíveis. Após assistido, é amá-lo ou odiá-lo, mas é preciso experimentar!

E para quem gostar, baixe a trilha do filme: Clint Mansel - Requiem for a Dream Orchestral version. Ouvir esta música instrumental vai fazer reviver alguns dos sentimentos do filme, pois ela é identificada ao primeiro acorde.


ps: Ainda não se convenceu a ver o filme?? Ele é estrelado pela sempre competente e estonteante Jennifer Connelly, de 'Uma Mente Brilhante' e 'Casa de Areia e Névoa' entre outros. Acabaram as desculpas...

Thursday, April 20, 2006

O Albergue (Hostel) - Nota 6

O status de Quentin Tarantino em hollywood é realmente invejável. Qualquer filme que ele seja diretor, produtor, produtor executivo, assistente, co-assistente ou ator coadjuvante merece um olhar mais cuidadoso. O cara virou uma espécie de Midas.

Por isso o cartaz de 'O Albergue' tem seu nome em letras garrafais, apesar dele ser apenas produtor do filme. E para começar a conversa, este filme não chega aos pés de Kill Bill, Pulp Fiction e companhia. Ainda assim, não é ruim.

O filme começa em Amsterdam, onde encontramos três mochileiros, dois americanos encontram um irlandês ou islandês. Como bons jovens de vinte e poucos anos, tudo que eles querem em uma viagem dessas resume-se a bebidas, baladas e mulheres (não necessariamente nesta ordem). Então, em um albergue, encontram um sujeito que lhes dá uma dica, um albergue em um país do leste europeu, onde mulheres abundam.

Após pensar meia vez, os três resolvem conhecer o albergue. Eles encontram uma dessas cidades que pararam no tempo, com fábricas abandonadas, ruas silenciosas e gangues infantis. Além disso, deparam-se com um albergue repleto de.. mulheres sensacionais! Neste momento você pensa ter entrado na sala errada, de um cine pornô. Calma, você está na sala certa e o terror vai começar...

Acontece que nesta cidade existe uma 'empresa', cujo negócio consiste em sequestrar estrangeiros, subjugá-los e vender o produto 'tortura' para donos de muito dinheiro e mentes distorcidas. E um genuíno estadunidense é o produto mais valorizado (que bom que os americanos sabem que são detestados). Bom, depois aparece muito sangue e cenas não lá muito agradáveis para quem acabou de jantar. São dedos, pernas, olhos e principalmente sangue para todo lado. Faz-se basicamente tudo o que você gostaria de fazer com aquela maldita banda de rock, aquela que ensaia músicas mal-formadas no apartamento bem acima do seu, e que sabe exatamente os horários que você gostaria de descansar. Quero dizer, gostaria, mas nunca realmente faria... Ou não?

E o que tudo isto tem de mais? Nada, e esta é a graça. O filme não tem pretensões, e quem vai assisti-lo também não. Mas depara-se com uma obra que se destaca dentro deste gênero saturado, de filmes recentes como Jogos Mortais, Casa de Cera, Terror e Horror não sei aonde...

O filme tem suas qualidades, e talvez seja nestas horas que se percebe a mão de Tarantino:

- Cria-se empatia com os mochileiros, realmente os caras são gente boa!
- A cidade escolhida não poderia ser melhor, cidadezinhas americanas não são suspreendentes.
- Existe história, dá até para fazer algumas reflexões sobre a índole humana. De leve.

V de Vingança - nota 6

Confesso que eu sofro de uma certa síndrome de blockbuster. Existe uma certa tendência de eu não gostar muito dos filmes que eu mesmo aguardo com ansiedade. Daqueles que a gente fica lendo as notícias de desde muito antes da estréia, vê teasers, posteres, entrevistas com atores e diretores.


O fato é que cria-se uma expectativa, que sempre pode ser frustada se não me deparo com um filme realmente marcante. Na maioria das vezes os filmes não são ruins, às vezes são até bons, mas saio da sala com aquela sensação de 'poxa, então é isso!?'. O chato da história é que isto é tanto desagradável quanto inevitável.

Bom, toda esta enrolação é para começar a falar de V de Vingança.
O cenário é interessantíssimo. Estamos na Inglaterra em um futuro próximo. O país agora tem um governo totalitarista, e a calma é mantida na base da opressão e violência, com direito a toque de recolher e controle do estado sobre os meios de comunicação.

Sem mais delongas nos são apresentados V e Evey. V é um revolucionário de origem misteriosa e que está sempre com uma máscara, que provavelmente todo mundo já viu a esta altura. Chamo V de revolucionário, pois chamá-lo de terrorista tenta criar um alarde desnecessário sobre o filme, não vejo as coisas assim. Evey é uma pacata cidadã que logo encontra V, e também testemunha a explosão de um famoso monumento público. Comentário (des)necessário: Natalie Portman provou que fica bem até careca.


Então o filme vai aos poucos mostrando a história de V, e ao mesmo tempo mostra a evolução da revolução (com o perdão do trocadilho) pretendida por este, além da aproximação dele com Evey.

O enredo é bem trabalhado? Sim.
Efeitos especias são convincentes? Sim, mas não assista o filme por causa deles, são poucos e guardados para bons momentos.

O filme fica monótono? De maneira nenhuma.

Final? Apoteótico, mas não lá muito surpreendente.

O que não me convenceu no filme foi, primeiro, a formação de V, sua história e motivos. Não me empolgou. Segundo, o filme acaba e você percebe que a história é, no fundo, uma simples e fraca crítica a governos atuais. Não conheço os quadrinhos originais, mas parece que a famosa 'adaptação do roteiro' força demais ao dar o ar de contexto comtemporâneo. De repente assistir a um filme do Michael Moore adiciona mais nesse sentido.